O feminismo tem se expandido no debate público, sendo reivindicado nestas eleições por diversas candidatas ao cargo eletivo. Afinal, o movimento feminista, apesar de amplo e com numerosas correntes, defende de um modo geral a igualdade entre mulheres e homens. No entanto, ainda que o movimento atraia o interesse de grupos de mulheres por reivindicar políticas afirmativas, a pauta garante votos efetivos do eleitorado feminino para candidatos e candidatas?
Assim como nas eleições anteriores, as mulheres compõem a maior parte do eleitorado no Brasil. Conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cerca de 82,3 milhões de pessoas aptas a votar são do gênero feminino, enquanto 74 milhões são homens.
Por constituírem um número significativo de pessoas no país, as políticas afirmativas voltadas para as mulheres são umas das principais bandeiras levantadas por movimentos sociais, que reivindicam direitos importantes para a população feminina, desde construção de creches, até problemas estruturais como o combate à violência doméstica e de gênero.
Nesse sentido, algumas figuras políticas se colocam como representantes da luta pela garantia desses direitos. Para a integrante do Comitê de Combate à Corrupção e do grupo de combate à violência política de gênero, Michele Aracaty, uma das vias para assegurar essas demandas é a ocupação de mais mulheres em cargos políticos.
“Imagina-se que a maior quantidade de mulheres eleitas haverá a sensibilização por parte delas de assistir a maioria das mulheres. Em termos de políticas públicas é uma tendência. Até porque, as mulheres são a maioria da população”,
afirmou.
Na disputa eleitoral para o cargo de presidência da república, a candidata Simone Tebet (MDB), é uma das figuras que levanta a bandeira da defesa pelo direito das mulheres, e do feminismo. Ao mesmo tempo, a candidata é contra pautas importantes do mesmo movimento, como a legalização do aborto.
No Amazonas, para o cargo do Governo estadual, há na corrida eleitoral as candidatas Nair Blair (Agir) e Carol Braz (PDT) que possuem em suas agendas, uma forte defesa da garantia dos direitos das mulheres.
Apesar da defesa de mais políticas públicas que atendam às necessidades e interesses do maior eleitorado do país ser pautado, na maioria das vezes, por mulheres que disputam as eleições, Michely Aracaty acredita que o eleitorado feminino ainda não possui grande interesse em nomes que reivindicam o feminismo e direitos em defesa da mulher.
“Acredito que a maioria das mulheres ainda não levanta a bandeira de votar em candidatas do sexo feminino, mas isso vem mudando com o tempo”,
disse.
Além disso, conforme a especialista, ainda que a estratégia da candidata à Presidência da República Simone Tebet de fazer parte de uma chapa composta apenas por mulheres seja interessante para atrair o interesse do eleitorado feminino, a curto prazo, até o dia das eleições, não haverá um impacto significativo.
Feminismo
Também chama atenção da aproximação de Simone com o movimento feminista. Para ela, ainda que a candidata se identifique com o feminismo, não considera Tebet feminista na prática, visto que não defende pautas especificas do feminismo.
“O fato da candidata não abraçar a pauta acerca do aborto, ao meu ver, não a torna feminista. Vejo como uma opinião muito mais ligada à família e à igreja do que uma questão feminista. Além disso, a pauta do aborto divide os brasileiros, acho que ainda temos que amadurecer muito esta discussão”,
destacou.
Por outro lado, a integrante do grupo de combate à violência política de gênero, e presidente do Conselho de Contabilidade Regional do Estado do Amazonas (CRCAM), Joseny Gusmão, observa que aquelas que atuam na defesa da mulher já são feministas, inclusive a candididata Simone Tebet.
“Tudo é uma questão de equilíbrio, até mesmo no feminismo. Acredito que toda mulher já nasce feminista, a partir do momento que ela vai à luta, contra a desigualdade e conquiste seu espaço na sociedade, representando várias mulheres. Ela tendo representatividade, ela já está praticando o feminismo”,
declarou.
Mulheres no espaço político do Amazonas
Uma das razões para Carol Braz se candidatar ao Governo do Amazonas é por buscar mudanças no estado. Assim, acha necessário a representatividade feminina no que se refere na luta pelos direitos da mulheres, assim como pela representatividade democrática na luta pela garantia de direitos de homens e mulheres.
“A mulher pode e deve estar em todos os lugares, inclusive na política. Me considero uma mulher esclarecida sobre direitos e deveres. Luto para garantir a igualdade entre homens e mulheres”,
afirmou.
Assim, apresenta em seu plano de governo projetos para assegurar saúde, capacitação, independência e combate à violência da mulher.
“Por isso criamos o programa AMA a Agenda da Mulher Amazonense que abriga ações em todos os setores de apoio feminino. Consegui os 10 milhões de emenda para a casa da Mulher Brasileira e agora vou mostrar que esse sonho das mulheres vai sair do papel”,
ressaltou.
Ao Em Tempo, a candidata afirmou receber apoio de mulheres de diversos grupos. Também criticou a ideia de que as mulheres não votam em outras mulheres em eleições no Amazonas.
“Criou-se um mito no Amazonas que mulher não vota em mulher. Não é verdade. Tenho recebido apoio integral de mulheres de todas as camadas e visões de mundo diferenciados. Há empatia, carinho, respeito e incentivo para que a nossa campanha ganhe espaço. Há uma frase da pensadora Efu Nyaki, “Metade do mundo são mulheres, a outra metade são os filhos delas”. O mundo de mulheres fortes e unidas, é no que acredito, com um Amazonas de oportunidades para todos”, disse.
Já Bancada das Manas, representada pela candidata Michelle Andrews (PCdoB), disputará as eleições desse ano para o cargo de deputada estadual do Amazonas. Entre suas principais bandeiras aparece a luta pelo direito das mulheres, por meio do feminismo negro, uma das correntes do feminismo.
“As manas da bancada das manas se consideram feministas. Há vários segmentos, eu sou feminista negra. O movimento feminista tem uma colaboração muito forte no país, então não tem como desconsiderar o movimento feminista brasileiro. Então nós somos feministas e fortalecemos esse segmento”,
afirmou.
Segundo Michelle Andrews, um dos motivos para ela e as outras integrantes da bancada participarem das eleições é pela necessidade de ampliar a representatividade de mulheres feministas negras, assim como aumentar a participação feminina nos espaços de decisão.
“Nós vamos adotar ações afirmativas, fiscalizar, propor novas leis, fundos e trazer a mulherada também para participar do nosso mandato popular, para que a gente consiga ver nos índices negativos de violência doméstica, de racismo, de LGBTfobia uma diminuição, a partir do nosso mandato, porque o nosso mandato ele vai estar à disposição da população”,
declarou.
Durante a atuação nas ruas, Michelle também percebeu um grande apoio de mulheres na campanha eleitoral.
“Nós percebemos numericamente o apoio feminino. Nós também somos uma candidatura coletiva composta só por mulheres. A gente não só percebe como também sente a participação da mulherada na nossa campanha”,
contou.
Para a 1ª suplente da chapa do candidato ao senado Arthur Neto (PSDB), Maria do Carmo Seffair (PSDB), o aumento da participação de mulheres nos cargos eletivos traz, como consequência, mais políticas públicas dirigidas às mulheres.
Conforme Maria do Carmo, a baixa representatividade mulheres no espaço político é um desafio que precisa ser vencido. No entanto, não levanta a bandeira do feminismo
“Por questões de foro íntimo não levanto bandeiras, mas valorizo aquelas que lutam. Penso que é possível ir vencendo as barreiras de forma paulatina e sistemática pela demonstração de competência e garra tão próprias das mulheres”,
declarou.
O interesse pela política, segundo Maria do Carmo, vem de um longo período dedicado no âmbito educacional, como reitora de universidade. Nesse processo de campanha, afirmou receber apoio constante de mulheres.
“Penso que temos que aprimorar as ações que já estão vigor: políticas de proteção à mulher em situação de vulnerabilidade e vítima de violência também. Precisamos saber que a violência verbal e psicológica é anterior à física. Preparar essas mulheres para dar um basta no início é fundamental”,
afirmou.
Representatividade
A estudante universitária Náthaly Palomany, de 24 anos, tem intenção de votar, nestas eleições, em mulheres. Para ela, a questão da representatividade é importante. Assim tem pesquisado informações sobre as ideias e propostas das mulheres que disputarão os cargos de deputado estadual, federal, assim como uma vaga ao Senado, Governo Estadual e para Presidência da República.
“Busco analisar as propostas feita por aquelas candidatas e as pessoas que estão por trás do partido em que ela está sendo lançada. Por exemplo, para mim não é válido votar em uma mulher que perpetua valores machistas, porque nós mulheres também estamos sujeitas a isso, ou de caráter conservador. São características que vão contra os meus valores progressistas”,
disse.
Dessa forma, acha importante o lançamento de candidaturas femininas, pois é sinal de que mais mulheres buscam ocupar espaços que antes eram majoritariamente dirigidos por homens. Também pretende votar em candidatas que defendam a pauta feminista.
“O feminismo busca combater o modelo social baseado no patriarcado, nós lutamos pela igualdade de direitos e pela igualdade social, mas algumas mulheres na política não enxergam dessa forma. Como eu disse anteriormente, algumas delas perpetuam essas características patriarcais achando que isso é mera “chatice” ou “mimimi” de mulheres feministas e não estão interessadas nas mulheres tomando espaços privados e públicos como protagonistas”, pontuou.
Já a jornalista Rayane Garcia acredita que para o cumprimento eficaz da democracia, é necessário a presença da mulher na política. Para ela, como mais da metade da população é composta por mulheres, as pautas feministas precisam ser discutidas e implementadas por esse grupo. Também enfatiza que não votaria em uma candidata apenas por ser mulher.
“Não votaria apenas por ser mulher, mas também veria o cenário político e as pautas que ela defende, já que na casa legislativa ela não representa só as suas pautas mas uma ideologia do partido”, explicou.
Por Gabriela Brasil
Fonte: Em Tempo