De um lado, empresas necessitando de mão-de-obra dinâmica para impulsionar suas atividades no mercado. Do outro, adolescentes e jovens refugiados, solicitantes de asilo ou migrantes matriculados na escola, em busca da primeira experiência de aprendizagem no Brasil.
Para promover o encontro entre estas necessidades, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) e a associação Hermanitos, parceiras da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em Manaus, têm promovido a participação de adolescentes e jovens venezuelanos nas Oficinas de Criatividades do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
As atividades preparam cerca de 31 adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos, regularmente matriculados na rede de ensino, em tarefas de reconhecimento e desenvolvimento de habilidades e competências profissionais essenciais, buscando facilitar o acesso a uma primeira oportunidade no mundo do trabalho.
“As oficinas buscam contribuir para a troca de vivências, experiências e saberes, de uma forma dinâmica e inovadora. A ideia é construir um ambiente de aprendizagem que reconheça habilidades e potenciais, e que prepare tantos brasileiros quanto refugiados e migrantes para a primeira oportunidade no mundo do trabalho”, explicou a assistente social do CIEE em Manaus, Ariana Roberta.
Jovem Aprendiz – Uma das formas de inserção no mercado acontece por meio do Programa Jovem Aprendiz, amparada pela Lei da Aprendizagem, de 19 de dezembro de 2000, regulamentada pelo Decreto Nº 9.579/2018. Para se tornar aprendiz no Brasil, o adolescente ou jovem, entre 14 e 24 anos, deve estar matriculado e frequentando a escola, caso não tenha concluído o Ensino Médio.
Um exemplo é a venezuelana Victoria Scarleth, que aos 19 anos se deslocou ao país para apoiar a família em um tratamento de saúde do pai, em 2021. Ao procurar a associação Hermanitos, ela concorreu a uma das vagas do CIEE e se tornou uma jovem aprendiz em uma das lojas do Grupo Bemol.
Além do aprendizado cotidiano, Victoria conta que a remuneração a ajudou a elevar sua autoestima, e a impulsionou a buscar por mais qualificações para seu futuro profissional.
“Todo dia aprendo algo novo com a equipe, situações de trabalho que complementam aquilo que a gente aprende nos cursos e na escola. E com o apoio dos colegas, a gente vai vendo a importância de estudar e aprender mais e mais, para que outras oportunidades dentro da empresa apareçam”, comentou.
Benefícios – A inclusão de pessoas refugiadas como Victoria pode trazer benefícios tanto para os adolescentes e jovens, quanto para as empresas.
A gerente de recursos humanos do Grupo Bemol, Isabel Cordeiro, explica que além de fortalecer a diversidade, a contratação de pessoas refugiadas também atrai novos conhecimentos e habilidades para a companhia, o que beneficia toda a equipe.
“Além de trazer maior diversidade ao ambiente de trabalho, os jovens aprendizes motivam seus colegas, demonstram alto comprometimento com suas funções, e no caso das pessoas refugiadas, podem trazer o domínio de outro idioma, como o espanhol, que também agrega valor para a empresa e para a rotina de trabalho”, destaca.
Este potencial de conhecimentos e determinação para aprender e desenvolver habilidades profissionais, é uma característica comum às pessoas refugiadas que buscam oportunidades de trabalho, ressalta o assistente sênior de soluções duradouras do ACNUR, Rafael Yoshida Machado.
“O ACNUR acredita ser importante investir na comunidade jovem refugiada, pois eles são o futuro de toda uma geração de pessoas que foram forçadas a deixar seus países de origem. A oportunidade dada pelo Programa Jovem Aprendiz contribui para realização dos diferentes objetivos dos jovens, seja uma oportunidade digna de trabalho ou novas oportunidades de qualificação no futuro.”
Cartilha – Em 2021, com o propósito de incluir jovens refugiados no mercado de trabalho brasileiro a partir de vagas de aprendizagem profissional, o ACNUR e o CIEE assinaram um Acordo de Cooperação e lançaram uma cartilha sobre contratação de jovens refugiados pela modalidade Jovem Aprendiz.
A publicação traz informações e orientações para companhias que desejam, por meio da aprendizagem profissional com pessoas refugiadas, ampliar o quadro de diversidade por meio da inclusão de jovens de outras culturas, que trazem bagagens e conhecimentos que agregam no desenvolvimento das empresas.
Foto: Up Comunicação/Hermanitos
Fonte: ACNUR Brasil