UÝRA é a primeira pessoa amazônica, trans (dois espíritos) e da periferia a ganhar um dos mais importantes prêmios de artes visuais do País: o PIPA 2022. De acordo com o instituto PIPA, o prêmio tem como objetivo premiar artistas brasileiros cuja trajetória seja recente, mas que já tenham uma produção consistente em evidência. É o caso dela: a artista foi indicada por um Comitê de Jurados, que considerou sua produção artística dos últimos cinco anos. Diferente das últimas edições – nas quais apenas um artista era contemplado – neste ano quatro pessoas foram premiadas, e entre elas brilha a artista indígena contemporânea Uýra Sodoma – A Árvore que Anda.
“Este prêmio é primeiro a demarcação de que independente do colonialismo, nós Indígenas, seguimos pensando e produzindo arte com qualidade, verdade e coletividade. Sou a primeira pessoa amazônica, trans (dois espíritos) e da periferia a ganhar este prêmio, e ele o dedico à minha família, à Floresta e às gentes da Amazônia, que como eu, seguem plantando e teimando pela Vida em meio ao caos e à invisibilidade”, pontua Uýra.
Em suas obras, a artista conta histórias de naturezas, de violências – como ela mesma coloca entre parênteses “(para que curemos)” – e as de natureza em estado de liberdade. “Conto histórias de gentes, bichos e plantas para que nos inspiremos”, diz Sodoma.
Sobre o prêmio
Essa é a 13ª edição do Prêmio PIPA, na qual foi mantido o modelo adotado em 2021, com os objetivos de: focar na produção mais recente do artista e criar uma articulação mais forte entre o Prêmio e o Instituto PIPA.
Conforme destacado no site do Instituto PIPA “Os membros do Comitê de Indicação do Prêmio PIPA 2022 indicam até três artistas visuais, de todas as mídias, com no máximo 15 anos de carreira (a partir da primeira exposição individual ou coletiva), configurando uma trajetória mais recente no circuito artístico. Para as indicações, são considerados como parâmetros: a produção diferenciada e a relevância do Prêmio para melhor desenvolvimento e crescimento do artista ainda em uma fase inicial de carreira. Todos os artistas indicados que formalizam sua participação têm direito a uma página no site do PIPA, uma vídeo-entrevista e presença no catálogo bilíngue do Prêmio”.
A próxima fase consiste na seleção dos quatro artistas entre os participantes do Prêmio PIPA 2022. Uýra, “Coletivo Coletores”, Josi e Vitória Cribb foram os artistas premiados dessa edição, e vão participar de uma exposição coletiva no Paço Imperial do Rio de Janeiro, além de uma ocupação nos sites e mídias sociais do Prêmio, produzindo algum material especialmente desenvolvido para a ocasião. As mostras não são de caráter competitivo. Cada artista receberá uma doação de R$20.000.
Sobre a artista
Conforme sua biografia, Emerson, 30 anos, é um indígena da Amazônia Central. É biólogo, mestre em Ecologia, e atua como artista visual, arte educadora e pesquisadora. Mora em Manaus, território industrial no meio da Floresta, onde se transforma para viver Uýra, uma árvore que Anda. Tendo o corpo como suporte, narra histórias de diferentes Naturezas via fotoperformance e performance. A partir da paisagem Cidade-Floresta, se interessa pelos sistemas vivos e suas violações, e também decolonialidade, memória e diásporas indígenas.
Entre seus trabalhos de grande destaque está o longa “UÝRA – A Retomada da Floresta”, que estreou mundialmente no Frameline International Film Festival, em San Francisco. O filme ganhou como melhor documentário pelo júri popular. Questionada sobre como se sente com essa conquista, Uýra prontamente responde: “Feliz, pois significa que está dando certo a razão pela qual me movimento coletivamente: contar as nossas histórias, da Amazônia, de gentes Indígenas e LGBT+, e estabelecer com os mundos de fora, diálogos que nunca existiram devido ao colonialismo. Os mundos não conhecem as verdadeiras Amazônias, e agora tem esta chance”, celebra.
Projetos
Uýra estreia neste momento na Bienal Nômade Européia, e está em Pristina (Kosovo), com suas obras que falam sobre ressurgimento de águas e florestas sobre os cimentos e imaginários coloniais. Ambas pensadas e construídas a partir de Manaus. “Daqui irei à Nova York, onde apresento a performance “Espiral da Morte”, que conta história de formigas para lembrar da profunda e pouco debatida diáspora Indígena no Brasil”, revela a artista
Fonte: https://www.acritica.com/entretenimento/artista-indigena-contemporanea-u-ra-vence-o-premio-pipa-2022-1.276633