Por meio de acompanhamento aliado a dados individualizados, a metodologia de detecção e desenvolvimento humano, DNA do Brasil – Talentos, identifica e direciona carreira de jovens estudantes no Estado.
Em relatório divulgado em julho, o Banco Mundial identificou que o Brasil desperdiça, em média, 40% do talento de cada brasileiro, isto é, considerando as condicionantes que influenciam no desenvolvimento das competências, conhecimentos e habilidades do indivíduo, o chamado Capital Humano, apenas 60% do potencial é atingido aos 18 anos.
Com base em dados mapeados e acompanhamento metodológico científico, o Amazonas inicia, este mês, o Programa DNA do Brasil – Talentos, capaz de detectar talentos em crianças e adolescentes em idade escolar para direcionar ao acompanhamento profissional de forma a potencializar habilidades e dirimir situações que afetam o cotidiano dos estudantes, por meio do esporte.
Professores da rede estadual de ensino de 20 escolas de Manaus e 19 do interior do Amazonas iniciaram a capacitação para implantação do programa nesta terça-feira, 30.09, no Centro de Convenções Vasco Vasques. Especialistas apresentaram a ferramenta baseada em aplicativo, além de conceitos e aplicações para coleta e mensuração dos dados que serão adequados às políticas, programas e projetos já existentes nas escolas.
Ao todo 16.743 alunos serão beneficiados em todo o Estado, incluindo escolas de todas as regiões, a exemplo da Escola Estadual Indígena Pamuri Mahsa Wi, localizada a duas horas do município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), na aldeia Iauaretê, que abriga o maior núcleo populacional da Terra Indígena Alto Rio Negro.
“O Amazonas é uma experiência única! Sabemos que, pela dimensão, vamos detectar vários atletas, várias possibilidades que integram o nosso escopo maior que é atuar no desenvolvimento humano. Usamos o esporte como ferramenta de inclusão social – não conheço outra mais eficaz – para identificar e encaminhar jovens seja para uma carreira esportiva ou para potencialidades dentro da indústria ou outras áreas do mercado em geral”, afirma Wilson Cardoso, idealizador do programa e presidente do Instituto para o Desenvolvimento da Criança e do Adolescente pela Cultura e Esporte (Idecace).
O desenvolvimento da metodologia vem sendo feito há 15 anos pelo instituto, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha a inclusão e o desenvolvimento humano por meio da cultura, educação e do esporte. O programa conta com o acompanhamento de nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos e profissionais de educação física.
O trabalho é voltado para identificar potenciais de crianças e adolescentes para o esporte. Uma das variáveis estudadas no processo de dimensão de talentos é o levantamento de dados sobre o desenvolvimento físico-motor do estudante, como estatura, massa corporal, flexibilidade, resistência, agilidade e velocidade. De acordo com esse levantamento, é possível identificar para qual esporte ele tem maior aptidão e poderá se desenvolver nesse esporte.
Na Escola Estadual de Tempo Integral João dos Santos Braga, localizada no Conjunto Joao Paulo, bairro Nova Cidade, Zona Leste de Manaus, o professor Rosinaldo de Oliveira Santos é um pouco treinador, um pouco pai, amigo e às vezes psicólogo dos alunos. Pela proximidade proporcionada pela atividade esportiva, ele afirma que é procurado para desabafos e até mesmo aconselhamento de estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio.
“Os alunos terem um acompanhamento, uma palavra de conforto de alguém, ajuda muito. A gente sempre auxilia, mas é claro que tendo a oportunidade de escuta de um psicólogo, que é um profissional, o resultado é bem melhor”, afirma.
Desde 2014 ele trabalha a modalidade de handball com os alunos, que já rendeu dois títulos dos jogos escolares do Amazonas, além de emplacar, todos os anos, pelo menos uma posição no pódium. “Este ano ficamos em terceiro no infantil feminino e em segundo no juvenil feminino. É sempre nesse nível”, afirma.
Trabalhando com aproximadamente 90 alunos, o professor acredita que a ferramenta DNA Score, de acompanhamento do desenvolvimento de alunos em variáveis específicas de rendimento físico, estado de saúde, qualidade de vida e interesses vocacionais, será o grande diferencial do trabalho que já vem sendo realizado.
Acompanhamento
Por meio de uma plataforma digital do programa, são feitas interpretação de métricas relacionadas às escolas, bem como do acompanhamento sistemático dos alunos, que geram laudos com a avaliação integral dos alunos. Os pais e alunos também acompanham os dados pelo aplicativo móvel.
O programa também conta com questionários nutricionais, psicossociais, de assistência social e vocacionais, proporcionando materiais de pesquisa, avaliação, encaminhamentos juntamente às escolas, e principalmente, auxiliam os jovens à sua futura profissionalização. A atuação na segurança, prevenção e encaminhamentos de ocorrência de violência contra a criança e adolescente é outro ponto que será monitorado pelo programa.
Além disso, os pais, responsáveis e professores têm acesso a indicadores científicos, correlações e intervenções específicas que são sugeridas com recomendações ajustadas ao desenvolvimento e resultado esperado. A medida passa sempre pela avaliação do professor, não sendo obrigatória a adesão integral. Todos os professores das escolas beneficiárias do projeto recebem acesso à formação continuada, sendo esta capacitação presencial, e os demais cursos à distância, como Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, Temas Transversais (Agenda 2030 – ODS/ONU e BNCC), Tecnologia e Desenvolvimento Talentos Esportivo, e a pós-graduação em Metodologia e Detecção e Desenvolvimento de Talentos Esportivos na Infância e Adolescência com 360h (EAD).
Equipes itinerantes treinadas farão o acompanhamento e ajustes do programa diretamente nas escolas e junto às famílias para a construção do perfil de saúde individualizado e de indicadores específicos de qualidade de vida. Identificação de hábitos alimentares e sugestões de alternativas saudáveis, a partir da realidade local, também estão previstas.
No Brasil, 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos são considerados obesos, de acordo com os critérios adotados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o que interfere no desenvolvimento e qualidade de vida dos estudantes. O Idecace já executa parcerias junto ao Ministério da Mulher, Família e Direitos, Ministério da Cidadania e governos estaduais.
O Programa prevê, em uma segunda etapa, a utilização de metodologias ativas para as áreas de Ciências da Natureza, Português e Matemática, com vistas à formação integral do aluno e suas potencialidades.
A Metodologia DNA do Brasil já foi reconhecida pelo trabalho iniciado em Brasília pelo 11º Prêmio do CIEE – 2020, pela inclusão de jovens no mercado de trabalho e o atendimento de mais de 47 mil famílias em sete anos, além da formação de atletas olímpicos e capacitação de jovens em suas habilidades vocacionais.
No Distrito Federal o atleta olímpico de saltos ornamentais Kawan Pereira, medalha de ouro nos jogos do Japão, foi revelado, por meio do programa DNA do Brasil – Talentos.
O Docente da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Dr. Hélcio Rossi Gonçalves afirma que, por meio da aplicação de testes científicos em atletas de alto rendimento, conseguiram estruturar os melhores tipos de detecção para habilidades específicas de cada modalidade, que baseiam a ferramenta.
“O Amazonas tem professores extremamente qualificados e envolvidos, que superam qualquer dificuldade logística ou de conexão”, explicou.
O atleta Jadel Gregório, recordista Brasileiro e Sul Americano no Salto Triplo, é um dos padrinhos do programa. Ele é um dos defensores do esporte como meio de transformação social. “Consegui ajuda e orientação para treinar aos 17 anos, quando não tinha nem chinelo. Aos 22 realizei o sonho da minha mãe de ter um pedaço de terra só seu. Imagina o que eu não seria capaz se tivesse sido encontrado por um projeto como esse ainda na escola?”, indaga. Ele participou da primeira etapa de formação dos professores no Amazonas, juntamente com o paratleta amazonense de jiu-jitsu Alex Taveira, faixa preta e campeão Brasileiro, Sul Americano e Mundial na modalidade.
“Consegui me identificar no jiu-jitsu porque alguém identificou esse talento em mim. Eu era fascinado por futebol e conseguia jogar, mesmo com uma perna mais curta, mas minhas habilidades se destacaram no esporte de luta. Fico imaginando quantas crianças podem ser beneficiadas a partir dessa identificação de suas tendências vocacionais”, afirmou.