A conexão e atuação de lideranças ambientais de diferentes regiões da Amazônia são fundamentais para a proteção das Unidades de Conservação (UCs). Foi com esse objetivo que a WCS Brasil (do inglês, Wildlife Conservation Society), uma das organizações membro do Observatório BR-319, realizou, nos dias 19 e 20/08, a “Oficina de Gestão Integrada das Áreas Protegidas da BR-319”, com a participação de mais de 30 lideranças comunitárias e de instituições parceiras.
O evento aconteceu na Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, no bairro Aleixo, em Manaus (AM), com a intenção de conectar gestores de UCs e lideranças comunitárias de territórios da área de influência da rodovia, além de difundir iniciativas sociais e ações de instituições governamentais, e não governamentais na região.
“As nossas UCs também são grandes na Amazônia, mas a junção delas atinge dimensões de paisagens. Então, nesse contexto de colapso climático, a escala de atuação é fundamental. É importante também encontrar as lideranças sociais para alinhar as necessidades dessas populações tradicionais, buscando compatibilizar a conservação da natureza e o desenvolvimento regional”, enfatizou o diretor adjunto da WCS Brasil, Marcos Amend.
O evento apresentou informações para nivelamento a respeito de Mosaicos de Áreas Protegidas, um modelo de gestão de Áreas Protegidas de diversas categorias que visa a participação, integração e envolvimento de gestores de UCs, e da população envolvida na gestão delas, com o intuito de compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da diversidade social e o desenvolvimento sustentável em um contexto regional.
Segundo a líder da Iniciativa Estratégica de Governança Territorial do Instituto de Conservação de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Fernanda Meirelles, a formação de um Mosaico das Áreas Protegidas já existentes na área de influência da BR-319 é de extrema importância para evitar conflitos em torno da rodovia.
“Foi discutido como a criação de um mosaico, pensando na gestão integrada das Áreas protegidas, pode ajudar na conservação da região e na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Também foram abordados os problemas de pressões externas nessas Áreas Protegidas e sabemos que isso vem em decorrência das obras de infraestrutura que existem na região. Uma obra como a da BR-319 aumenta a pressão nessas áreas, por mais distante que elas estejam da estrada. A gente já observa um impacto direto”, explica Fernanda.
Protagonismo comunitário
Liderança do povo Mura, da Terra Indígena (TI) Cunhã-Sapucaia, na aldeia Piranha, o cacique Pedro Souza destacou que eventos como este ajudam a conectar as principais lideranças da região.
“Achei muito importante o que acompanhei no evento. Você sair da sua casa, aos 80 anos, para falar sobre conservação e encontrar outras pessoas que vivem em comunidades distantes, onde é um desafio chegar lá, são pessoas que têm as questões parecidas com a minha comunidade, questões de conservação e que vivem as mesmas dificuldades. Estamos juntos, aqui, para proteger as Unidades de Conservação e pensar como podemos melhorar as nossas condições de vida”, avaliou o cacique.
Um dos participantes do evento, o presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Madeira (Apramad), Lailto Dias, vê pontos positivos e desafios para a gestão de Áreas Protegidas sob influência da rodovia. “O funcionamento da BR-319 acaba trazendo uma preocupação em relação ao futuro, sabemos que se abriu uma porta para sermos de alguma forma atacados, mas, também, nos alegramos, porque abre uma porta para que a fiscalização se aproxime de forma mais rápida e, com o envolvimento da BR-319, isso traz também uma esperança”, opinou.
A oficina foi realizada pela WCS Brasil, com o apoio do Observatório BR-319, e financiada pela Fundação Segré e Fundação Mitsubishi Corporation para as Américas.
Fotos: Rodolfo Pongelupe.