A multiartista Andira Matagal e o projeto TeiasUrbanas, estrearam uma nova parceria poética, o trabalho intitulado Cabeça-Coração apresenta poesia e ilustração em lambe-lambe e um videopoema. A parceria surgiu a partir da inspiração poética e afetiva vivida por seus idealizadores. O projeto resultou em dez lambes-lambes espalhados pelo Centro da Cidade e pela comunidade do Livramento, local escolhido pela dupla para filmar o videopoema.
TeiasUrbana é um projeto de ocupação artística da cidade que já abordou diversos aspectos que compõem a Manaus real. São pessoas negras, indígenas, da periferia, imigrantes, amores LGBT (como a arte de Victoria Katarina) e agora – através do talento Andira espalha o afeto trans pelos muros da capital amazonense, como destaca a artista.
“Mais do que isso, a possibilidade do corpo travesti de enxergar o masculino e suas questões também. A sensibilidade que meu corpo tem de se identificar tanto com a vivência de corpos-homens quanto com a de corpos-mulheres. Pois transito entre e para além de ambos. Sou o caminho do meio, de cima e de baixo. Eu sou antes dele e dela”, pontuou a Andira.
Ainda de acordo com Andira, Teias é sobre a ocupação urbana, então pode-se dizer que a nova série é sobre o corpo-afeto travesti ocupando Manaus.
“Não somente um corpo trans amando, mas sendo amado, visto e apreciado. Produzindo escrevivências de um lugar de afeto pra muito além dos que o CIStema coloca para o meu corpo. Além dos não-lugares e das sub-narrativas marginalizadas. É sobre alimentar a criação de outro imaginário acerca da identidade travesti, que ressignifica sua relação com a rua e com as pessoas, e demarca esses lugares como protagonista de narrativas de afeto transpotente” explica a autora da série.
Sobre a parceria – A parceria da dupla, que transborda da vida pessoal para a criação artística, prevê englobar outros artistas que os atravessam afetivamente. No caso do videopoema foram convidados Luiza Andrade para declamar/narrar o poema e o artista indígena Jacinto Tuyuka para a trilha sonora.
“A ideia é que o fazer criativo e os afetos da vida íntima se confundam mesmo. Não é possível criar para mim sem o afeto. Arte é profissão, arte é ofício, mas é um fazer que foge a lógica produtivista do mercado, o que a move e rege são os afetos. Não poderia criar sob outra orientação” comenta Rafael Cesar do TeiasUrbanas.
Já Andira Matagal, explica o sentido mais afetivo de “Cabeça-Coração”. “É um movimento interno que surgiu a partir do meu olhar y sentimento sobre um corpo, o de Rafael no caso, y me inspirou essa visualidade que virou o texto y o desenho. No mais prático, é um afeto materializado. Uma poesia-visual-verbal que surgiu de um momento de afeto com ele durante um diálogo, uma percepção sensível da sua forma de ser e sentir e também um momento de identificação que me trouxe essa imagem que virou o texto y o desenho”, conclui a multiartista.