125 milhões de brasileiros acreditam que há desigualdades raciais no país

Segundo percepção populacional, pessoas negras sofrem racismo em locais diferentes de acordo com a região do Brasil; confira os dados

Para mais de 125 milhões de brasileiros (cerca de 75% da população com mais de 16 anos), as desigualdades e diferenças no tratamento entre pessoas negras e brancas são expressivas no país, principalmente em estabelecimentos comerciais, ambientes escolares e no trabalho.

É o que diz o Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) em recente pesquisa intitulada “Desigualdades”. Com sondagem nacional, o mapeamento buscou levantar a percepção da população brasileira sobre as múltiplas desigualdades presentes no país.

Os recortes contemplados pela insituição incluem: a necessidade de desenvolver atividades extras para complemento de renda, a percepção sobre pessoas em situação de fome e pobreza, as situações de preconceito e o acesso a serviços digitais.

Percepção sobre o racismo

No Nordeste – região em que o racismo é mais evidente, de acordo com o estudo – a violência racial é mais frequente em hospitais e postos de saúde. Já no Norte e Centro-Oeste, o preconceito é mais percebido na rua e espaços públicos de convivência.

No Sudeste, os shoppings e estabelecimentos comerciais lideram os locais com mais situações de diferença no tratamento étnico-racial. Já o Sul do país observa um tratamento mais desigual em situações de trabalho, como em processos seletivos, mas percebe menos as situações de preconceito quanto a raça/cor, orientação sexual ou identidade de gênero.

“De forma geral, a situação de vulnerabilidade das minorias sociais é maior nos espaços públicos, onde estão mais expostos a agressões verbais e físicas. Além disso, situações em que existe uma hierarquia, como situações de trabalho, também permitem um abuso de autoridade sobre essas pessoas”, enfatiza Jorge Abrahão, diretor do Instituto Cidades Sustentáveis.

Gênero e orientação sexual

As situações de preconceito ainda acontecem em relação à orientação sexual e ao gênero. De forma que, três em cada cinco brasileiros já sofreram ou viram alguém sofrer preconceito por tais motivos. Dentro desse espectro, 47% das mulheres declararam já ter sofrido assédio, principalmente na rua ou nos transportes públicos.

Os dados da pesquisa revelam que a população brasileira consegue perceber o aumento da pobreza no país, além de observar uma grande vulnerabilidade em relação às minorias sociais, como negros, mulheres e pessoas LGBTQIA+.

“É fundamental um olhar nacional sobre questões tão estruturais das nossas desigualdades, especialmente considerando a proximidade das eleições e a resposta que os candidatos terão de dar à crise atual”, avalia o diretor do ICS.

Vulnerabilidade e complementação de renda

Dos entrevistados, 75% perceberam o aumento da situação de vulnerabilidade, especialmente quando se trata de aquisição de bens básicos e alimentos. Outro fator destacado pela pesquisa é que houve aumento de 34% na percepção de pessoas morando nas ruas.

Esse percentual é maior no sudeste (84%), em especial nas capitais (85%) e periferias metropolitanas (84%).

“Ou seja, em municípios em que a população é superior a 50 mil habitantes, as desigualdades e o aumento da pobreza e da fome se tornam maiores aos moradores”, salienta Jorge.

Para tentar driblar a situação econômica, 45% dos brasileiros precisaram fazer atividades extras para complementar sua renda no último ano. Isso equivale a mais de 76 milhões de habitantes com a necessidade de trabalhar mais para garantir o sustento, segundo o ICS.

Dentre as atividades mais realizadas, os serviços gerais (faxinas, manutenção, marido de aluguel) lideram o ranking, com 13%; seguidos pela venda de comida caseira, com 8% e roupas e outros artigos usados, com 6%.

Já em relação às regiões brasileiras, o Sudeste apresentou o maior índice de procura pela complementação da renda, com 49% dos habitantes em algum tipo de atividade adicional, enquanto o Sul do país foi o estado com menos necessidade de complementar a renda, 63% da população não precisou fazer atividades extras.

Além disso, a pesquisa também aponta para maior necessidade das atividades extras entre as famílias com renda de até um salário mínimo e entre os evangélicos.

O estudo foi feito entre 1º e 5 de abril deste ano e, ao todo, foram consultadas 2 mil pessoas, distribuídas pelas cinco regiões do país.

Por  Caroline Nunes

Edição: Elias Santana Malê

Foto: DepositPhotos

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