Keila Sankofa participa de residência e exposição internacional evidenciando em suas obras os fazeres e saberes ancestrais por meio de instalações audiovisuais no Centro Cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro
Todo o conhecimento tradicional do povo preto de terreiro pauta o trabalho de Keila Sankofa. É a partir dessa identidade que a artista evidencia, em suas obras, o que ela considera a tecnologia do conhecimento ancestral. O resultado dessa convergência proposta pela amazonense será apresentado a partir desta quarta-feira, dia 27 de julho, na Ocupação Amplify, na Galeria 2 do Centro Cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro.
“Não é possível refletir tecnologia pautando apenas equipamentos eletrônicos como finitude da discussão, o corpo carrega informações, e só a partir delas, é possível criar meios facilitadores de comunicação, transmissão de pensamentos e novos pensamentos, sensações e etc. É o corpo que produz primeiro essa inteligência, criando uma onda, fazendo com que esses eletrônicos possam ser ferramentas para utilizá-los no modo convencional ou recriar suas funções”, descreve Sankofa.
A artista foi convidada para participar da residência promovida pela Amplify Digital Arts Initiative (Amplify D.A.I.) em parceria com a Oi Futuro. O objetivo do programa é oferecer aos artistas recursos para o desenvolvimento, trocas entre pares, divulgação dos seus trabalhos em residências artísticas, eventos e festivais em diferentes países. E nessa exposição, a qual a artista amazonense foi convidada, serão apresentadas uma instalação audiovisual e 15 obras em videoinstalações.
Keila Sankofa participou dos dois processos e avalia o convite como um reconhecimento ao trabalho que vem desenvolvendo em Manaus. “Esse é o início do resultado de muitas pesquisas, experimentos e estudos sobre produção de novas narrativas que venho desenvolvendo. Há muitos movimentos para que esses acontecimentos se transformassem em realidade”, revela.
As residências
No principal trabalho, Keila Sankofa participou de uma residência artística imersiva, aberta ao público, junto com as artistas Bella, do Rio de Janeiro, e Nina Corti, da Argentina. Durante 13 dias de trocas, elas desenvolveram uma instalação inédita em audiovisual criada a partir do acervo de equipamentos eletrônicos e de telecomunicações do Oi Futuro.
“Realizar a residência com duas artistas que trazem sensações sonoras em suas obras, me faz reconhecer novas possibilidades na minha produção. Essa vivência com pessoas e suas diversidades é sempre grandioso, visualizar outras visões de mundo, novas possibilidades e suportes para as contações pretas e ancestrais, que tanto me atravessam, foi delicioso”, descreveu a artista.
Já na exposição que apresenta 15 obras, de duplas de artistas do Brasil, Argentina, Canadá e Reino Unido, Keila apresenta a performance de contato e interação “Presente das presenças”, resultado de uma residência online em parceria com a também artista argentina Fernanda Flores. O projeto traz experiência sobre comida, memória e afetividades. Uma instalação com registros fotográficos e vídeos de uma performance que envolve o afeto pela comida, com peixes, pimentas, verduras, farinha, entre outros.
A Ocupação Amplify fica aberta até o dia 28 de agosto, no horário de 10h às 20h, no Centro Cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro. A entrada para conferir a diversidade desses trabalhos e obras coletivas, é gratuita. Outras informações no site da Oi Futuro (https://oifuturo.org.br) ou da Amplify (https://amplifydai.com).
Sobre a artista:
Keila Sankofa é produtora, realizadora audiovisual e artista visual nascida em Manaus – Amazonas, onde vive e trabalha. Compreende a rua como espaço de diálogo com a cidade, produzindo instalações audiovisuais que exibem filmes, fotos e videoartes. Artista que utiliza a fotografia e o audiovisual como ferramentas para propor autoestima e questionar apagamentos de pessoas negras; atualmente, utiliza seu corpo como protagonista na construção de suas obras. Reconhece o espaço urbano como encruzilhada de possibilidades, que proporciona um diálogo decolonial não hierárquico com o público. Tem uma vasta experiência na direção de produção de projetos audiovisuais como séries e curtas, além de produção de mostras, festivais e espetáculos de diversas linguagens artísticas. Gestora do Grupo Picolé da Massa, Diretora artística do Projeto Direito à Memória, membra da APAN Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro, Nacional Trovoa e do Coletivo Tupiniqueen.
Sobre o Amplify D.A.I
Desde 2018, o programa AMPLIFY Digital Arts Initiative já recebeu 95 artistas e profissionais que se identificam como mulheres, de 9 nacionalidades diferentes. Concebido para promover conexões, redes e oportunidades de carreira e criar solidariedade entre as participantes, o programa oferece sessões de capacitação sobre habilidades digitais, atividades que destacam as práticas artísticas e questões sociais, ao mesmo tempo em que oferece oportunidades de apresentação que transcendem o eixo geográfico norte-sul.
O programa Amplify Digital Arts Initiative (Amplify D.A.I.) foi criado pelo British Council em 2018 para conectar artistas que se identificam como mulheres e que desenvolvem seus trabalhos nas artes digitais, na música eletrônica e na arte sonora no Canadá, na América Latina e no Reino Unido. O objetivo do programa é promover o debate sobre equidade de gênero e democratizar o acesso de pessoas que se identificam como mulheres no campo das artes digitais, oferecendo recursos para o desenvolvimento de competências e carreiras, trocas entre pares e oportunidades para que as participantes divulguem seus trabalhos em residências artísticas, eventos e festivais em diferentes países.
No entanto, o Amplify só chegou ao Brasil no ano passado, através de uma parceria com o Oi Futuro. Durante o final de 2021 e o início de 2022, as atividades do Amplify no país foram realizadas e apresentadas por três dos mais importantes festivais de artes digitais e sonoras: Novas Frequências, Amazônia Mapping e Multiplicidade.